História

Origens e evolução

Kyudo significa, literalmente, o “caminho do arco” – Kyu (arco) e Do (caminho). É a arte tradicional do tiro com arco japonês. Apesar da sua origem no Japão, a sua prática está hoje difundida em muitos países nos vários continentes.

A origem do Kyudo é antiga, e está ligada tanto à prática da caça e da guerra, como a cerimónias de corte onde o arco era usado para fins rituais. As primeiras referências ao uso do tiro com arco em cerimónias religiosas e de corte, remontam ao século VII da nossa era.

Entre o século XII e o século XVI, o tiro com arco evoluiu tanto na forma e na técnica, como no fabrico do arco.

A chegada dos Portugueses ao Japão no séc. XVI introduziu o uso de armas de fogo no campo de batalha e o uso do arco para fins militares foi, progressivamente, abandonado. A sua utilização foi, no entanto, mantida viva por várias escolas para fins religiosos, recreativos, desportivos e marciais. Desta forma, a sua prática continuou a evoluir e a aperfeiçoar-se.

O Kyudo e as escolas tradicionais

Até ao início do século XX, o Kyudo era praticado, sobretudo, no contexto das “escolas” tradicionais.

As primeiras escolas conhecidas de tiro com arco no Japão, datam do século XII. Delas subsistem ainda hoje a Ogasawara-Ryu e a Takeda-Ryu. A Ogasawara-Ryu inclui na sua prática o tiro com arco a pé – Kyudo –, o tiro a cavalo – Yabusame – e a etiqueta. A Takeda-Ryu pratica, sobretudo, o tiro a cavalo – Yabusame –, embora os seus membros pratiquem também o kyudo (tiro a pé).

No século XV, é fundada a Heki-Ryu que introduziu inovações na técnica do tiro que enfatizavam a sua eficácia em situações de combate real. A Heki-Ryu deu origem a vários ramos, designadamente a Sekka-ha, a Chikurin-ha, e a Insai-ha, entre outras.

A Yamato-Ryu formou-se no século XVII, incorporando elementos das tradiçoes xintoísta, budista e confucionista. Simultaneamente, tentou fazer uma síntese das técnicas de tiro da Heki-Ryu e dos princípios de etiqueta da Ogasawara-Ryu.

A Honda-Ryu tem origem no final do século XIX. Depois do início da era Meiji (1868), e com abolição da classe dos samurais, as artes marciais entraram em declínio e entre elas também o Kyudo. O tiro com arco deixou de ser um privilégio dos samurais, e à falta de protecção, os mestres de Kyudo começaram a ensinar à população em geral. Foi neste contexto de abertura da prática, e de declínio da sua popularidade que Honda Toshizane, então professor de kyu-jutsu da Universidade Imperial de Tóquio, fundiu os estilos de tiro de guerra e cerimonial. Esta fusão é considerada ainda hoje como estando na base do Kyudo actual.

A Dai-Shado – Via do Grande Tiro – foi iniciada por Awa Kenzo (1880–1939), que se tornou num dos mais famosos arqueiros do Japão nas primeiras décadas do século XX. Conhecido pela sua perícia, exigência técnica e precisão no tiro, iniciou no entanto uma meditação sobre a finalidade do tiro com arco. Como consequência, cerca dos 40 anos de idade alterou a sua posição relativamente ao tiro, afirmando que, no mundo actual, o verdadeiro objectivo do tiro com arco é aperfeiçoar o espírito humano. O tiro com arco não devia ser entendido como uma técnica nem uma arte, mas sim um caminho, uma forja espiritual. Apesar do Dai-Shado como designação ter desaparecido com a morte de Awa Kenzo, a sua influência estendeu-se até hoje através de alguns dos seus discípulos, eles também mestres de Kyudo.

O Kyudo actual

Com o final do período feudal e o início da era Meiji (1868), o Kyudo, como toda a sociedade japonesa, iniciou um processo de abertura e de modernização. O Kyudo começou a fazer parte das actividades em escolas e universidades escolares, e, tal como noutras artes marciais, os antigos sistemas de graduação das escolas tradicionais – as licenças, menkyo – são progressivamente substituídos pelo actual sistema de Kyu / Dan.

Nas primeiras décadas do século XX, assiste-se a tentativas de unificação das diferentes formas de Kyudo, por forma a que os praticantes com origem em diferentes escolas pudessem ter um referencial comum para praticarem em conjunto. Data também deste período a generalização da palavra Kyudo em vez da designação tradicional de Kyujutsu.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, as artes marciais foram proibidas no Japão até 1949. Com o fim da proibição, a Federação de Kyudo do Japão (ANKF – All Nippon Kyudo Federation / Zen Nihon Kyūdō Renmei) foi fundada para promover o Kyudo e padronizar as formas de tiro, permitindo a praticantes de várias tradições e escolas atirar juntos de forma harmoniosa.

Desde então a prática do Kyudo transcendeu as fronteiras do Japão, com praticantes nos cinco continentes no mundo inteiro, ligados através da Federação Internacional de Kyudo (IKYF), fundada em 2006. Fora do Japão, existem, actualmente, cerca de 3600 praticantes na Europa e cerca de 1500 no resto do mundo.

É à ANKF que cabe a atribuição dos graus de 1º a 10º Dan.

A ANKF atribuí, também, a partir de 5º Dan, os títulos de Renshi (“treinador”), Kyoshi (“professor”) e Hanshi (“mestre”).

Todos graus e títulos são obtidos através de exame, ä excepção dos de 9º, 10º e Hanshi que o são por nomeação.